quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Dia 7

De frente para o espelho.
Vejo uma miúda.
Crescida já, pequena ainda. Alta (sempre o foi), magricela (já foi mais). Tem sardas no Verão, agora não. Tinha um sinal entre os olhos, talvez um chakra? Já não o tem, tirou-o. Com anestesia, porque é sensível à dor. Tem o corpo pintado. Há quem chame tatuagens. Há quem chame borrões. De piercings não gosta. Assusta-a furar o corpo. Furar-se. Que mais vejo? Dois olhos, um mais claro que o outro. Ou talvez não; a luz engana. Mas azuis. Há quem diga da cor do céu. Há quem diga da cor do mar. Eu digo apenas azuis, da cor dos da avó. Sem classificações desnecessárias. Tem os pés deformados de anos em pontas. E como uma marca não vive isolada, tem também cicatrizes de outras guerras. Tem muito mais que o espelho não reflecte. Como a solidão imposta a gosto. A irreverência por querer ser diferente do rebanho. O feitio rebuscado. Complicado. Por muitos (já não) aturado. Dizem que lê muito. Que sonha muito. Que perdeu as ilusões. Que gosta de gomas e cheesecake. E de coca-cola. Sim, tem vícios. Os da alma e os da vida. É feliz? Já foi menos. Já foi mais. Sim, creio que é feliz.

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