domingo, 28 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um chá em Istambul

Istambul é mágica.
E a magia circula pelo ar ao som dos minaretes que prostam homens no chão com o seu tapete. O Silvezter andava também por lá, a passear pelo palácio de Topkapi, à procura de um sentido. Encontrámo-nos na casa de chá, não por acaso. Em Istambul bebe-se muito chá, bebem-no para suportar o calor. Curioso, chá a ferver apenas faz mais calor. Sim, eu sei, evita a transpiração. Não fugimos ao ritual, sentámo-nos numa mesa para dois. O Silvezter é húngaro; é senhor de um cavalheirismo estranho a ibéricos. Depois do chá, a descida ao Bósforo por entre alamedas dum caos inenarrável. Gosto de Istambul, imaginava-me fácilmente a viver ali. Mas não sem o Silvezter, memórias que tenho dele enterlaçam-se com as da cidade.

Sou assim, para cada cidade imagino uma pessoa sem a qual essa cidade faz pouco sentido.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Africa on my mind



O que se pode dizer do Quénia?
Paradoxos: a selva e a cidade de Nairobi. O céu e o inferno no mesmo país.
Miséria a par com natureza em estado puro. E praias magnificas em Mombaça. E as neves eternas do Kilimanjaro. A terra do Rei Leão é feita de contrastes.
Os safaris, as savanas, as girafas, hienas, elefantes, leopardos e tudo o mais ali ao lado, basta esticar o braço. Os Masai Mara a quererem comprar-nos pagando com gado. Macacos que roubam turistas no hotel. A maior lixeira humana e a tradição do chá das cinco. O forte de Jesus deixado pelos portugueses e os mosquitos assassinos.
Não conheço meios termos em relação a África: ou se ama ou se odeia. Há aqueles que têm uma visão paternalista e assistencionista em relação ao continente e aqueles que sabem dar a cana para ensinar a pescar. Os que sabem que África só se solucionará quando deixar de depender da boa vontade alheia e mergulhar nos seus problemas para os resolver por mãos africanas.
Por ser das apaixonadas por África e africanos crio-lhes uma ligação como se tratasse de uma forma de vida.

Hakuna Matata. Jambo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Relógios, tempo e outras divagações

Tenho dois relógios, um na tua hora.
Os ponteiros avançam devagar, afinal, são cinco horas que tenho que viver à tua frente. Enquanto dormes, eu almoço; enquanto almoças, eu janto; enquanto jantas, eu durmo. Posso sacrificar a minha noite para ficar contigo a trocar palavras e promessas ou podes sacrificar tu a tua. Não, não podes. Tu voas alto e eu nem saio do chão. Tu és livre de ir a qualquer lugar, eu estou presa aqui até terminar o que comecei. De quem nada se espera, tudo se pode dar. Mas que me podes dar que eu não espero nem peço? Ah... não fosse a vida tão irónica e estaria aí contigo agora, a vivermos no mesmo fuso horário. Temos que acertar o ponteiro... mas quando?

Flying trapeze

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Kingston Town

Quando viviamos em Kingston tudo cheirava a reggae.

Alegre, contagioso, explosivo.

Porém, o fado nunca me largou...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Fly with me Mr O.



Hoje tive saudades de voar.
De sentir a adrenalina no momento do salto.
De sentir o vento bater-me na cara instantes antes de me largar e ser apanhada num catch. E de sentir o medo que as alturas me provocam mas que ao mesmo tempo me incitam a subir sempre mais alto. O mundo visto dum baloiço no ar é poético.
O meu trapézio teve rede durantes dias e meses e anos. No fim da viagem, como sempre acontece, só ficam os retratos.
E as saudades.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Dia 8

Depois de sete dias a criação tornou-se completa.
Depois de sete dias no trapézio estou certa deste voo. Faz sentido compilar alguns retratos antigos.



"O beijo fulmina-nos como o relâmpago, o amor passa como um temporal, depois a vida, novamente, acalma-se como o céu e tudo volta a ser como dantes.
Quem se lembra de uma nuvem?"


Guy de Maupassant

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Dia 7

De frente para o espelho.
Vejo uma miúda.
Crescida já, pequena ainda. Alta (sempre o foi), magricela (já foi mais). Tem sardas no Verão, agora não. Tinha um sinal entre os olhos, talvez um chakra? Já não o tem, tirou-o. Com anestesia, porque é sensível à dor. Tem o corpo pintado. Há quem chame tatuagens. Há quem chame borrões. De piercings não gosta. Assusta-a furar o corpo. Furar-se. Que mais vejo? Dois olhos, um mais claro que o outro. Ou talvez não; a luz engana. Mas azuis. Há quem diga da cor do céu. Há quem diga da cor do mar. Eu digo apenas azuis, da cor dos da avó. Sem classificações desnecessárias. Tem os pés deformados de anos em pontas. E como uma marca não vive isolada, tem também cicatrizes de outras guerras. Tem muito mais que o espelho não reflecte. Como a solidão imposta a gosto. A irreverência por querer ser diferente do rebanho. O feitio rebuscado. Complicado. Por muitos (já não) aturado. Dizem que lê muito. Que sonha muito. Que perdeu as ilusões. Que gosta de gomas e cheesecake. E de coca-cola. Sim, tem vícios. Os da alma e os da vida. É feliz? Já foi menos. Já foi mais. Sim, creio que é feliz.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Dia 6

Ouve-se falar muito e nem sempre de forma positiva das pessoas “diferentes” e da tolerancia que devemos ter para com elas. Pois saibam que ser diferente é ser único. O “diferente” é dotado de uma massa especial e por isso mesmo é inteligente, porque percebe que os outros não o entendem. E percebe porquê que é agredido. Sabe que as suas opções o fazem pagar o preço de estar sempre a ameaçar o rebanho, a inveja e ódio do comum. Apesar de muitas vezes estar certo, sabe que nunca tem razão. Porquê que transformamos o potencial em caricatura? O “diferente” vê mais longe que o consenso, sente antes de os outros começarem a perceber, emociona-se quando todos agridem e riem. Só os “diferentes” esperam o que já não vem, sonham entre os realistas, falam de amor no meio da guerra, choram entre os que ofendem. Têm uma alma divina feita de luz e uma coragem gigante de se assumirem perante a vida com as suas diferenças, mais ou menos escolhidas. Têm uma estrelinha maravilhosa, que guardam e só revelam aos poucos capazes de os entender e sentir. E é nessa estrelinha que existe a ternura humana, de que só os “diferentes” são capazes.

Para um amigo,
que me deu a conhecer um admiravel mundo novo.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Dia 5

Si tu no estas aquí sabrás,
Que Dios no va a entender por que te vas

Enquanto fumava o seu cigarro, vício que via como terapia face às suas obsessões recentes, lembrou-se da história de Ulisses, o marinheiro que deixou a sua casa e só voltou passados muitos anos. Ulisses nas suas aventuras passou por aqui, fundando Lisboa. A Lisboa que lhe traz sempre a sensação de ser aquele lugar no mundo onde as mulheres conhecem o verdadeiro significado da palavra esperar.
É neste seu mar que agora se refugia do caos interior. Este mar que viu tantas caravelas partirem, tantos homens fazerem-se ao horizonte, tantas mulheres que em vão mas convictamente os esperaram. Algures em Ítaca também Penelope esperou anos e anos a fio pelo regresso de Ulisses. Pretendentes não lhe faltaram mas uma mulher sabe quando só amará um homem na sua vida. Penelope viveu o suficiente para ver Ulisses regressar, velho e cansado de anos no mar a namorar sereias e a fundar cidades – a sua Lisboa.
E agora ela pergunta-se, sempre que inspira o ar que o Tejo lhe traz nas suas caminhadas onde procura o seu eu feliz, se terá sido Ulisses quem deixou de herança o mito da sua Penelope, o mito da espera. Ela sabe que todas as mulheres sabem esperar. E todas esperam. E a maioria não vê a sua espera recompensada porque os homens são todos marinheiros. E o mar raramente os traz de volta...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Dia 4

Paseare en un cielo sin estrellas esta vez, tratando de entender quien hizo un infierno el paraíso...

Nada a fazia adormecer naquela noite. Estava inquieta, com o pensamento ausente, a divagar pelas memórias. A vida humana pauta-se pela ironia... um dia tinha tudo, no outro ficara sem nada. E não tinha sequer pedido, desejado nada. Estava tranquila no seu canto, na sua paz. Mas ele foi entrando devagar na sua vida, acabando por se instalar.
Nada se dá, nada se pede... A vida faz-se de sorrisos, fé e momentos e é preciso ser-se paciente. Não chore menina, a solidão é a terra dos fortes.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Dia 3

Ansiedade, Energia, Honestidade, Intuição, Companheirismo, Paciência, Timidez, União, Sensualidade, Respeito, Preconceito, Rebeldia, Vitória, Obsessão, Isolamento, Tolerância, Vergonha, Competitividade, Teimosia, Derrotismo, Histeria, Ingenuidade, Perdão, Comprometimento, Desejo, Apego, Decepção, Pudor, Tristeza, Segurança, Agressividade, Compaixão, Desonestidade, Ingratidão, Empatia, Docilidade, Prazer, Sarcasmo, Desinibição, Lealdade, Maldade, Esperança, Ausência, Confiança, Desprezo, Melancolia, Atracção, Inveja, Vulnerabilidade, Ambição, Desgosto, Vontade, Rancor, Apreensão, Justiça, Constrangimento, Domínio, Pânico, Bondade, Vingança, Suavidade, Imperfeição, Sonho, Ardor, Vaidade, Simpatia, Delicadeza, Ciúme, Alienação, Carência, Cumplicidade, Carisma, Fuga, Descrença, Inocência, Gentileza, Indecisão, Equilíbrio, Euforia, Desencanto, Clareza, Devaneio, Calma, Igualdade, Expectativa, Gratidão, Harmonia, Inércia, Descontrole, Optimismo, Paixão, Integridade, Ternura, Sabedoria, Insegurança, Loucura, Espiritualidade, Humilhação, Autenticidade, Dor, Consciência, Agitação, Carinho, Deslumbramento, Cordialidade, Êxtase, Força, Iniciativa, Orgulho, Exigência, Auto-Estima, Entusiasmo, Ilusão, Espanto, Fraqueza, Humanidade, Discórdia, Encanto, Perda, Meiguice, Luxúria, Pena, Tédio, Surpresa, Admissão, Tranquilidade, Ressentimento, Saudade, Interesse, Mágoa, Pressa, Ousadia, Superioridade, Vigor, Adaptação, Serenidade, Amor-Próprio, Perceptividade, Medo, Leveza, Ira, Coragem, Sensibilidade, Inferioridade, Despeito, Tenacidade, Convicção, Dependência, Agonia, Afeição, Desânimo, Intensidade, Culpa, Sintonia, Satisfação, Unicidade, Plenitude, Indiferença, Amor...

... nothing more than feelings.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Dia 2

Há nuvens no céu e a chuva levou a minha estrela para longe.
Há muito tempo que não vejo a minha estrela. Deixou de brilhar ou deixei eu de vê-la?
Fui afortunada. Ofereceram-me uma estrela em tempos.
Mas perdi-lhe o rasto pelo caminho.
E em tempos era a que brilhava mais. Era a estrela polar, a que indica o norte, aquela que me levava sempre de volta a casa. Quando tinha uma casa para onde voltar.
Agora...
agora sou só mais um ser avulso por aí.
A janela está molhada e o meu olhar embaciado. Não é uma boa combinação para procurar algo no céu.
No céu... quem não almeja o céu? O céu sobre mim escureceu.
Já não distingo entre os pingos na janela e os dos meus olhos.
Talvez um dia a estrela volte a sorrir-me, a acenar-me lá do longe, lá do céu, onde estão aqueles que amei mas que não soube prender a mim.
E continua a chover... mas já não importa. Com a água a sujidade das ruas desaparece.
Talvez a chuva leve também as marcas da minha alma.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Dia 1

As cordas estão seguras e o vento de feição.
Preparo-me para me lançar neste voo.