terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Dia 5

Si tu no estas aquí sabrás,
Que Dios no va a entender por que te vas

Enquanto fumava o seu cigarro, vício que via como terapia face às suas obsessões recentes, lembrou-se da história de Ulisses, o marinheiro que deixou a sua casa e só voltou passados muitos anos. Ulisses nas suas aventuras passou por aqui, fundando Lisboa. A Lisboa que lhe traz sempre a sensação de ser aquele lugar no mundo onde as mulheres conhecem o verdadeiro significado da palavra esperar.
É neste seu mar que agora se refugia do caos interior. Este mar que viu tantas caravelas partirem, tantos homens fazerem-se ao horizonte, tantas mulheres que em vão mas convictamente os esperaram. Algures em Ítaca também Penelope esperou anos e anos a fio pelo regresso de Ulisses. Pretendentes não lhe faltaram mas uma mulher sabe quando só amará um homem na sua vida. Penelope viveu o suficiente para ver Ulisses regressar, velho e cansado de anos no mar a namorar sereias e a fundar cidades – a sua Lisboa.
E agora ela pergunta-se, sempre que inspira o ar que o Tejo lhe traz nas suas caminhadas onde procura o seu eu feliz, se terá sido Ulisses quem deixou de herança o mito da sua Penelope, o mito da espera. Ela sabe que todas as mulheres sabem esperar. E todas esperam. E a maioria não vê a sua espera recompensada porque os homens são todos marinheiros. E o mar raramente os traz de volta...

1 comentário:

Maria Luisa de Albuquerque Inácio disse...

escrever na 3ª pessoa pode ter um pouco de nós ou tudo de nós, mas ocultando a identidade do que sentimos. qual é a hipótese neste caso?
(engraçado que hoje também escrevi na 3ª pessoa)