quinta-feira, 29 de julho de 2010

Montego Nights


As noites em Montego eram regadas a rum, reggae e luas prateadas espelhadas sobre um mar que não termina nunca. Ou assim é como lembro a noite da escolha, que me traçou o caminho por anos...

sábado, 24 de julho de 2010

While flying

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.


Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.


Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.


Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.


Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.


Eugénio de Andrade

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sorolla



Amo, amo, amo.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Excertos de um outro

Têm vindo a perguntar-me coisas interessantes. Ou não.
Perguntaram-me porque escrevo num blog. Não soube bem o que responder. Provavelmente não há resposta.
Começou por acaso, numa noite de depressão, com o intuito de ser eternamente secreto, exorcisar fantasmas e guardar monstros no armário. Num pulinho foi-se espalhando. Hoje é medianamente conhecido por alguns amigos e ilustres desconhecidos. Mas que sabem de mim quem me lê? Atrevo-me a supor que pouco, muito pouco, quase nada. Porque eu não me revelo no que escrevo. É nos meus silêncios que eu estou.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Coragem



Nunca antes do livro de Sandor Marai tinha pensado no conceito que hoje não me sai da cabeça... não basta amar, é preciso amar com coragem. Sim, é preciso ter coragem para assumir a diferença em público e não ter medo ou vergonha disso. Porque uma coisa é entre as nossas quatro paredes e outra é o critério da rua e do preconceito.
Na primeira vez não fui capaz, sei que o amei mas sem coragem... agora estou a tentar corrigir o erro. Já é tarde para recuperar o que perdi e sei que só tenho a mim para me culpar. Tento desta vez, mais uma vez, ter coragem de não desistir.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sándor Marai

Ouve-me. A lei do mundo dita que se deve terminar o que alguma vez se começou. Não é grande motivo de alegria. Nada chega a tempo, nunca a vida te deu nada, quando precisavas. Sofremos longamento por essa desordem, por esse atraso. Mas, um dia, percebemos que uma ordem maravilhosa e perfeita habitava em tudo... que duas pessoas não podem encontrar-se um dia antes, mas só quando estiverem maduras para esse encontro.


(...) Não acredito em encontros fortuitos. Sou homem e conheci muitas mulheres... O que fazer, se estava à tua espera? - disse, quase gentil, sem ênfase, elegante e contido.


(...) Vês Eszter, o reencontro é quase mais excitante e misterioso do que o primeiro encontro... há muito que sei isso. Reencontrar alguém que amámos não é como voltar ao «lugar do crime», atraídos por uma necessidade irresistivel, como se diz nos romances policiais?... Eu só te amei a ti na vida, não com severas exigências e nem lá muito exigentes, sei... (...)


Tu não querias, na verdade, esse amor. Não te defendas. Não basta amar alguém. É preciso amar com coragem. Nós não nos amámos com coragem... foi esse o mal. E a culpa é tua, porque a coragem dos homens é ridicula em matéria de amor. É trabalho vosso, o amor...


In
A Herança de Eszter

terça-feira, 13 de julho de 2010

Resgate

No ano passado fui para Aveiro debaixo de uma tempestade que mal me deixava ver o caminho, com mágoas em modo repeat, sem me importar se me dirigia a Aveiro ou Plutão, desde que fosse longe de Lisboa, que me trazia inúmeras recordações de dias mais felizes. Este ano resolvi ir para o meu refúgio, para aquele sitio de que falo tanto mal do clima, do mar, do ambiente e é no entanto um sitio tão querido, tão acolhedor. Vou para a minha praia, aquela que há uns anos ninguém conhecia e hoje é um hot spot cheio de gente; vou com a Wendy, que mesmo homeless, não nos troca por nada (a mim e à praia); vou para a minha lareira, os meus passeios de bicicleta, o cheiro a maresia a entrar-me pela janela, as recordações do primeiro beijo numa noite de lua naquela praia onde estamos sempre, pais e filhos e já avós e netos...
Vou! Levo pedidos e agradecimentos. Vou trazer paz e confiança.

domingo, 11 de julho de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

While flying

I carry your heart with me (I carry it in my heart)
I am never without it (anywhere I go you go, my dear;
and whatever is done by only me is your doing, my darling)
I fear no fate (for you are my fate, my sweet)
I want no world (for beautiful you are my world, my true)
and it´s you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you
here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that´s keeping the stars appart
I carry your heart with me (I carry it in my heart)


E. E. Cummings

terça-feira, 6 de julho de 2010

segunda-feira, 5 de julho de 2010

domingo, 4 de julho de 2010

Aqui me confesso

Quando tivemos que tomar uma decisão, não a tomámos.
Isto já foi uma decisão.
E todos os dias me arrependo de ter tido medo de voar...

sábado, 3 de julho de 2010

As Sem-Razões do Amor

Eu te amo porque te amo
não precisas ser amante
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.


Amor é dado de graça
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 1 de julho de 2010