quinta-feira, 18 de abril de 2013

Kaddish

"A propósito de elefantes, de todos os rituais fúnebres que as criaturas deste mundo excogitaram, sempre admirei o dos elefantes, que têm uma estranha forma de morrer, sabias? Quando um elefante sente que chegou a sua hora afasta-se da manada, mas não o faz sozinho, escolhe um companheiro que vá com ele, e abalam. Avançam pela savana, muitas vezes a trote, depende da urgência do moribundo... e caminham, caminham, podem fazer quilómetros e quilómetros, até o moribundo decidir que é ali que ele quer morrer, então dá umas quantas voltas e traça um círculo, porque sabe que chegou a hora de morrer, leva a morte dentro de si mas tem de colocá-la no espaço, como se se tratasse de um encontro, como se quisesse olhar a morte de frente, fora dele, e lhe dissesse bom dia senhora morte, cheguei... (...) e só ele pode entrar naquele círculo, porque a morte é um assunto privado, muito privado, e ninguém lá pode entrar senão quem está a morrer... e aí chegado pede ao companheiro que o deixe, adeus e muito obrigado, e o outro regressa à manada..." António Tabucchi, no livro Tristano Morre.
 
Ontem soube que uma pessoa minha conhecida se suicidou.
Acho que ainda estou em choque.
Mas, lá está, estas coisas da morte... não é só sermos escolhidos... também podemos escolher...

1 comentário:

Anónimo disse...

Acho que os elefantes deprimidos abalam sozinhos...
DR