terça-feira, 22 de julho de 2014

Sempre me dei muito bem com o meu pai, tínhamos uma cumplicidade enorme. Tínhamos uma espécie de código secreto, piadas só nossas e que mais ninguém compreendia. Era uma relação muito especial. Sempre procurei nos rapazes um reflexo do meu pai, amigo, divertido, generoso, um homem de família. Mas ele era tanto homem de família quanto homem de salão. E sempre ouvi a minha mãe dizer, e sempre concordei, que os homens de salão nunca são bons maridos.
Mas desde que os meus pais se separaram, esta relação especial perdeu-se. Começou a perder-se discretamente, um ligeiro afastamento, mas também eu já vivia sozinha há alguns meses, já estava fisicamente ausente dele. E depois começou a perder-se emocionalmente. Porque outra pessoa entrou na vida dele, com a sua família, que se tornou a família dele. E ele foi se modificando. Para os outros continuava a ser o homem de salão, sempre alegre, sempre em risadas. Para nós tornou-se triste e lamuriento. Depressivo até. A namorada que arranjou (anos depois continuo a achar estranho dizer que o meu pai tem namorada) fê-lo tomar atitudes que eu não previa. Coisas que antes para ele eram importantes parece que deixaram de ser. Eu não culpo ninguém nem tomo as dores de ninguém. Não o fiz aquando da separação, porque entre marido e mulher não se mete a colher, nem o faço agora no seio desta nova relação. E quero que ele seja feliz e esteja acompanhado. Juro que sim. Não tenho ciúmes nenhuns nem qualquer espírito de competição para com a namorada. Até gosto dela, é sempre muito simpática para mim e atenciosa. Mas vejo que ele mudou e não consigo deixar de achar que ela foi a causadora dessas mudanças. Já não sinto aquela empatia. Há vezes que o sinto mesmo um estranho. E isto faz-me profundamente infeliz.

2 comentários:

M, disse...

:( Não sei porquê, acho que ele sentirá qualquer coisa parecida com isso também. Afinal, se tu notaste, também ele notou e talvez se sinta agora a mais na tua vida, que entretanto foi deixando outras pessoas entrar. Vocês seguiram caminhos diferentes, que acredito serem paralelos e não em direção contrária!

Anónimo disse...

Concordo com a M.
D.