quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Contadora de histórias

É muito raro dar a conhecer este blog a alguém, especialmente alguém que conheço à pouco tempo, porque neste blog está grande parte da minha vida adulta até ao momento. Estão as minhas alegrias, as minhas desilusões e tristezas e como tal, é algo muito intimo. Tive um blog antes deste que era sobejamente conhecido mas quando resolvi mudar-me para o Trapézio achei que fazia sentido mantê-lo low profile. Quando há muita gente a ler e ainda mais se for gente que me conheça, sem dúvida que constrange a escrita. Há coisas que não escrevemos se soubermos que alguém específico irá ler. Sou acometida por uma certa vergonha e timidez literária, coisa que não tenho num cara a cara. Talvez porque eu sou mais honesta por palavras escritas que por palavras faladas. Como sempre digo, o papel é paciente e o leitor sabe que há alturas certas para se ler algo; ler um livro aos 15 anos não é o mesmo que lê-lo aos 25. Quem nunca leu algo que odiou e anos mais tarde deu outra hipótese ao texto e acabou por se maravilhar? O mesmo se aplica à escrita. Eu escrevo melhor quando tenho tristezas a massacrarem-me o espírito. Quando estou feliz ou simplesmente normal não tenho muito a dizer. Como também já disse várias vezes, os portugueses escrevem bem porque são tristes e é por isto que Portugal é um país de escritores. Esta manhã reli o blog de fio a pavio. Fui lá aos primórdios recordar as impressões que gravei aqui e quase que chorei. Lembrar dói muito, lembrar depois de se ter feito um esforço colossal por esquecer. E quando está esquecido e por acaso lembramos, volta a doer. Neste blog, apesar de forma indirecta, falo especialmente de três pessoas. Três pessoas especiais que fizeram parte de mim, que me trouxeram a onde estou agora. O acaso não existe e se tinha que ser assim, assim foi. Mas dói e há-de sempre doer a constatação dos três fracassos. Há também aqui histórias de viagens, de mundos para além do que o português comum conhece. Pessoas de outros países e hábitos que fui conhecendo e coleccionando pelo mundo fora. Quando falo sobre estas pessoas e viagens, por vezes sinto-me uma contadora de histórias, perdida na imaginação e vejo mesmo olhares de desconfiança, de quem não acredita ser possivel uma miúda lisboeta de 25 anos já ter feito e visto tanto. A contadora de histórias que me sinto, sei eu e alguns poucos que é tudo verdade. Nunca fui comum nem tive experiências comuns. A minha maior alegria é a bagagem emocional que carrego comigo, é o tanto de mundo que tenho absorvido. Conto as histórias porque me orgulho delas, porque gosto de mostrar a minha "diferença"; não gostava nada de ser mais uma no rebanho. E não o sou. Quer acreditem quer não.

4 comentários:

PP disse...

Nunca gostei de contadoras de histórias, o que não quer dizer que não gostasse das histórias que a minha mãe e avó me contavam, mas contadoras de histórias recordam-se sempre mulherzinhas parvas que me retiravam do recreio para me obrigar a ouvir histórias para meninos de 3 anos, quando já tinha uns 6 ou 7…

Por isso para mim não és uma contadora de histórias, és apenas uma ovelha negra com umas peripécias engraçadas e um raciocínio intrigante.

M. disse...

Raciocinio intrigante... elabora essa teoria por favor.

Bj

Anónimo disse...

Viva o "fora do comum" ! Creio que só assim a vida tem sabor .

Inês

M. disse...

Olá Inês,

Obrigada pelo comentário.

Bj