quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Coitadinhos dos coitadinhos

Numa aula da pós graduação a falar com a C. estavamos a discutir o conceito "coitadinho". É palavra que não suporto. O português tem a mania de se vitimizar por tudo e tem muito pouca capacidade de ouvir sem assumir que tudo quanto é dito é uma crítica pessoal. E isto é tão óbvio e está tão vincado em tudo e mais alguma coisa. Por exemplo, nos concursos americanos todos os concorrentes entram com uma atitude de vitória, com uma confiança tão grande neles próprios que é admirável. Já cá ninguém tem coragem para se assumir um líder ou um vitorioso, mesmo que pense. Não o dizem porque quem diz é logo rotulado de convencido e snob. Sofremos de uma falsa modestia que é extramente irritante. Gostamos dos coitadinhos e de nos fazer de coitadinhos, esses é que achamos terem mérito. Pois eu não vejo mérito nenhum nisso. Não gosto da palavra humildade nem do que ela falsamente acarreta. Esta humildade, imposta pela cultura cristã, que nos obriga a sermos poucochinhos, contidos, castrados até. Que erradica completamente o orgulho que temos, ou deviamos ter, em sermos quem somos e no meio em que estamos inseridos. Nivelamo-nos por baixo e fugimos da pompa e da grandeza. É como a expressão que mais ouço relacionada com noivas e que me dá ataques de urticária: "ela ia muito simples mas bem". Muito simples... claro que gostos não se discutem, mas é inacreditável a quantidade de vezes que ouço isto, como se "simples" fosse um grande elogio. Para mim, o simples não é elogio, não é bom. Odiava que me dissessem que eu fui uma noiva simples, porque se há dia para não se ser simples é o dia do nosso casamento. Este é só um exemplo. Mas como eu não vou nessa da humildade, do coitadinho, da falsa modestia, sou bruta e snob e tiazoca e tal que recorrentemente ouço. Já eu diria que sou autentica, sem falsos moralismos e sem dourar a pilula. Definitivamente há palavras que não cabem no meu vocabulário, tais como coitado, humilde, simples, as palavras e os falsos significados que lhes atribuem. Porque de soberba também não sou, felizmente, acometida.

1 comentário:

PP disse...

Não acho os portugueses especialmente acometidos pela modéstia e pela humildade, especialmente quando comparados com as culturas de raiz protestante do norte da Europa, acho-os sim detentores de um elevado espirito de hierarquia, em que a vitimização e a subserviência perante os decisores é bem vista e geralmente leva à protecção e discriminação positiva das supostas pobres criaturas.

Há também uma cultura de séculos de espalhafato e exibicionismo entre os novos-ricos e endinheirados, um “bling bling” tradicional, em que foi gasto grande parte do dinheiro do comércio das especiarias, do ouro do brasil, dos rendimentos do café, dos fundos comunitários e da especulação imobiliária.

Neste ultimo contexto o simples pode ser efectivamente um elogio, quando o menos é mais, quando os envolvidos estão mais preocupados com o seu conforto e bem-estar do que na aprovação das massas, amigos ou conhecidos.

No entanto o simples adquiriu uma natureza de tal forma ambígua que já não vale grande coisa como adjectivo, carece de um “mas”, depois do “mas” aí sim se revela a sua verdadeira natureza.