segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Das casas velhas e expectativas novas

Quando era pequena e morava na Estefania tinha um grande jardim onde havia gatos, árvores e muito espaço para brincar. Costumava fazer corridas com as nuvens e enfurecer-me por elas me ganharem sempre. Andava de bicicleta e aprendia a nadar no tanque. Mastigava as palavras e percebia que depois de repetidas dez vezes deixavam de fazer sentido. Sinto saudades do meu jardim. Os prédios novos de Lisboa não têm espaço para guardar um jardim privado, cultivado com amor e paciência. Ainda hoje, que já não sou tão pequena assim, gosto de jardinagem. Acalma-me tratar das flores, remexer na terra e regar. O cheiro da terra molhada traz-me a infancia de volta. E o jardim que guardo na memória, onde vivi tanto que por mais que viva, e muito foi depois, nunca mais vivi como ali.
A minha infancia acabou na mesma altura que mudei de casa. Nova zona, nova escola, novas brincadeiras. Quando as Barbies desapareceram da vista, os Ken´s da vida real apareceram. Processo complicado. Nunca entendi os rapazes. Ainda não entendo os homens. Já os invejei e achei que têm uma vida menos complicada; apesar de tudo, gosto de ser menina. Gosto de ser a menina numa familia de homens. Invejo a amizade masculina. É mais franca e mais leal. Não será por acaso que sempre me dei melhor com rapazes e tenho mais amigos rapazes que raparigas. Da infancia ficou-me também uma paixão por gatos. Tinha muitos no jardim, todos com um nome da corte real Disney. Identifico-me com a independência dos gatos. Mansinhos mas com garras afiadas, just in case. Ficaram-me as amigas das brincadeiras da praia e do colégio, qualquer dia casadoiras e mamãs! Ah, como fantasiavamos com esses dois acontecimentos... Tenho saudades da infancia mas por nada quereria voltar para lá. Por nada me veria de novo sentada a recitar poesia e a solucionar o teorema de Pitágoras. Desde cedo aprendi a deixar no passado o que a vida me levou. No meu presente tenho algumas certezas, do meu futuro nem uma imagem me vem à cabeça. Mas quando as memórias voltam em força, é bom deixá-las correr livremente e por vezes partilhá-las... com quem importa e está presente...

2 comentários:

Maria Luisa de Albuquerque Inácio disse...

a casa da Estefânia onde brincávamos ao quarto escuro

Margot disse...

É bom não termos imagens do futuro na nossa cabeça. Se for bom demais, estraga a surpresa. Se for mau, angustia.
Eu estou presente.
Margot