segunda-feira, 22 de março de 2010

De Israel com amor

Aterrar em Telavive, esse Jardim da Primavera.
A porta do avião abre-se para a saída dos passageiros.
Pisar solo sagrado, sentir as lágrimas quentes a descerem cara abaixo. Ver velhos de tatuagem no braço a beijarem o alcatrão quente debaixo dos quarenta e cinco graus do Verão. Como conter as lágrimas?
Sentir um pequeno grande aperto no coração, sem ousar pestanejar não se vá perder qualquer emoção.

Haifa
Chegar pela marginal do porto, subir aos Jardins Ba´hai. Mulheres com crianças pela mão em todo o lado, braços e pernas cobertos, há que respeitar os credos. Procurar a sombra de uma árvore no Verão hebreu é prioritário.

Jerusalém
Subir o monte das Oliveiras e ver-se o dourado da cúpula da Al Aksa e a parede do templo destruido onde ainda hoje se lamentam os tempos idos. Jerusalém é um explosão de emoções contraditórias. Mistura-se a crença com o cepticismo, por entre o chão das mesquitas e o túmulo do Santo Sepulcro. Cada um transporta a sua cruz na sua perigrinação ao centro do mundo. Mas Jerusalém está velha, feia, suja. Caótica, feroz e amável ao mesmo tempo.

Neguev
No deserto não há cor e o silêncio grita.
Não há cor nem há movimento nem tão pouco alegria. Mas transmite paz. "Do pó fomos feitos, ao pó tornaremos". Israel e religião estão de mãos dadas, mesmo que seja num tom bélico ou mesmo que não acreditemos em religião. Só nas histórias se encontram acampamentos beduínos, mercadores ao passo lento dos seus camelos. No deserto não vemos ninguém e sentimo-nos tão pequenos perante a imensidão de terra, rocha, aridez, que apetece fugir. É a noite que traz a cor, o céu torna-se o mais bonito de se ver, polvilhado de estrelas cadentes. Não é por acaso, é na solidão do deserto que faz mais sentido fazer pedidos a estrelas.

Subir Masada e contemplar o Mar Morto. Quem tiver feridas que não entre no Mar ou arrepender-se-à. Espreitar as grutas enquanto se desce ao ponto mais baixo da Terra e cobrir a pele de lama, faz milagres nessa terra que já de si é um milagre.

Voltar a Telavive, o Rio de Janeiro do Médio Oriente. Ter consciência do crescimento espiritual e histórico que sofri. Passagem rápida pela Jaffa dos vestigios romanos com o mercado árabe a preceito, depois de Nazaré cristã mas de lingua árabe, Eilat dos turistas do Mar Vermelho e Sde Boker dos kibbutz.
Descolar da pista rumo a casa, num mundo menos caótico e mais tolerante, com a sensação que cresci e que Deus afinal até existe. Um último olhar pela janela pequena do avião e sentir as já familiares lágrimas a rolar.

Deixo casa rumo a casa.

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